1 de junho de 2015

Sobre Splatoon e maturidade

Sexta-feira passada (29/05/2015) lançou Splatoon, a mais nova franquia da Nintendo, a “primeira em 14 anos”, como está sendo alardeado por aí. Não é bem assim, tivemos diversas franquias novas durante esse período, como Nintendogs, Brain Age, a série Wii Coisas (Sports, Play, Fit, etc), Pushmo, Dillon’s Rolling Western e Steel Diver, entre outras. O que Splatoon realmente é: a primeira franquia de personagem nova (entenda: um jogo centrado em um personagem como o Mario, a Samus, os Pikmins e os Inklings, em oposição à série Wii Coisas, que giravam em torno dos Miis, que são avatares customizáveis) criada pela Nintendo EAD em 14 anos. Sim, eu sou um Nintendo fanboy chato. Muito chato.

Mas eu não vim aqui (só) para ficar vomitando minha nerdice nintendística, estou aqui porque o blog é meu e eu faço o que eu quiser e para comentar sobre uma matéria que eu li sobre Splatoon que me deixou pensando na vida, o universo, videogames e tudo mais.

Já, já eu chego no artigo, primeiro queria deixar aqui minhas impressões iniciais sobre Splatoon, depois de três dias com o jogo.

Splatoon: Impressões Iniciais


Desenvolvedora: Nintendo

Plataforma: WiiU

Preço: US$59,99

Tempo com o jogo: 3 dias

O que é este jogo? Splatoon é um shooter em terceira pessoa (apesar de já ter algumas pessoas achando esta classificação errada, e que Splatoon seria outra coisa) onde a sua principal sacadinha é que, ao invés de balas, suas armas atiram tinta, e o objetivo principal não é eliminar seus oponentes, mas cobrir território com a sua tinta. Não que você não possa matar seus adversários, até ajuda no esquema geral das coisas, mas o foco é território.

Outro fator importante são os personagens que você controla, os Inklings, criaturas que mudam de forma entre uma lula e um humano. Na forma lula, seu inkling pode nadar na tinta da sua cor, sendo o modo mais rápido e ágil de locomoção, podendo até escalar paredes que estiverem pintadas. Além disso, as lulas são invisíveis para seus oponentes quando elas estão nadando, acrescentando um elemento de stealth pro jogo. Porém, só é possível atirar sua arma na forma humana. Isso gera uma estratégia interessante envolvendo  a locomoção e o combate, onde é preciso saber a hora certa de correr e a hora certa de atacar.

O principal modo de Splatoon é o multiplayer online, onde dois times de quatro inklings combatem para ver quem colore o maior território (sempre achei o verbo colorir muito estranho, tenta falar “eu coloro”, parece errado). Existem outros modos online, criando variações sobre essa fórmula inicial, mas como ainda não atingi um level alto o bastante, só consegui jogar o modo básico, o Turf War. Tem também uma campanha single player, mais focada em puzzles e desafios de plataforma.

Caso queiram, tem a música tonta oficial que explica o jogo:


E aí? E aí que este jogo é legal pra burro e eu estou me divertindo horrores com ele, tanto no single player quanto no multiplayer. Nunca fui uma pessoa muito competitiva, tanto que só fui começar a jogar mais online com Mario Kart 8 e, neste momento, estou gostando mais de Splatoon do que de MK8. Acho que atingi um nirvana estranho com este jogo, onde não me irrito quando perco - nem comigo, nem com meus companheiros de equipe, nem com meus adversários e nem com o jogo. Quando eu começo a perder demais em MK8, começo a amaldiçoar todas as gerações das famílias dos outros jogadores e dos desenvolvedores, não é uma cena muito bonita de se ver.

O single player é bem divertido também, me lembrando bastante o Super Mario 3D World, com fases curtas, mas bem estruturadas, cada uma introduzindo uma idéia nova e trabalhando ela até o ponto certo, pelo menos na minha opinião. Existe esta análise da “narrativa da jogabilidade” usada nos últimos jogos do Mario, comparando o andamento das fases com a estrutura de narrativa oriental chamada Kishoutenketsu, e desde que eu vi esse vídeo tenho percebido essa estrutura em diversos jogos da Nintendo, inclusive no modo single player de Splatoon.

Não tenho nenhuma reclamação no momento, nem mesmo a falta de comunicação por voz, que é a principal reclamação que vi nos diversos reviews do jogo. Se bem que eu não sou a pessoa mais indicada para avaliar essa falta, já que jogo muito pouco online e não tenho experiência o bastante com jogos com comunicação por voz, a não ser que telefone sem fio conte, que eu praticava muito no pré-primário (ainda existe pré-primário?).

Uma última coisa que eu tenho que falar antes de terminar é a direção de arte do jogo: é muito legal. Adoro o estilo visual dos inklings, e por mais que eu jamais vá ter a coragem e a juventude para usar as roupas que eles usam, estou gostando muito da moda dentro do jogo também. Digamos assim: para mim, essa “Shibuyazisse” toda é muito legal e interessante e descolada e maneira e sinistra e irada e sei lá o que mais que essa juventude serelepe millenial fala, mas só dentro do jogo, que eu já cheguei numa idade que só de ver esses bonés de aba reta sendo usados de lado no mundo real eu sinto dor nas joanetes. Mas num inkling é super supimpa.

Esses frutos do mar millenials não possuem a menor fibra, vou te contar.

Resumindo: Três dias é pouco para formar uma opinião muito elaborada, mas estou curtindo muito Splatoon. O grande teste vai ser quando eu acabar o single player e ficar só no online, pode ser que eu fique jogando por meses assim como pode acontecer deu largar e voltar para o online de Mario Kart 8. Todavia, como a Nintendo planeja adicionar conteúdo grátis no decorrer do ano, acho que Splatoon ainda tem muito potencial para se tornar “o jogo que eu sempre jogo toda semana”.

Agora, o assunto deste post


Dentre os diversos artigos que li sobre Splatoon nessa última semana, um deles me chamou muito a atenção: Here’s what a 10-year-old thinks of Splatoon, her first online competitive shooter (Isto é o que uma garota de 10 anos pensa de Splatoon, seu primeiro shooter competitivo online). É uma entrevista conduzida por um repórter de games com sua filha de dez anos, tentando avaliar quais foram as impressões que ela teve do jogo. Sim, eu sei, ela descreve e opina sobre o jogo muito melhor do que eu, não precisam ressaltar isso.

Essa entrevista é muito interessante por si só, tanto por uma questão de ver as opiniões de uma criança sobre um jogo que, convenhamos, tem como um dos públicos-alvo crianças, como por uma questão de ver como crianças (ou pelo menos essa menina) pensam e enxergam o mundo. Inclusive, tem uma outra matéria parecida com um menino de seis anos, caso interesse.

Ela fala muito dos aspectos de trabalho em equipe, de como tinha medo de jogar outros shooters online por causa do stress da competição e de como mesmo sendo derrotada e ficando brava ela ainda assim queria continuar jogando Splatoon. Mas o trecho que mais me chamou a atenção e me levou a escrever este post foi este aqui:

“I really like Splatoon a lot. But I feel like if I told the other kids that I was playing Splatoon they might not think it was all that great. Because it’s Nintendo, and they think Nintendo is for kids. And it doesn’t have blood and guts. And even if it was fun, they wouldn’t admit it. Because they want to seem more grown up. But I don’t care, because Nintendo games are adorable. And fun. Especially this one.”

Tradução aproximada:

“Eu gostei muito de Splatoon. Mas acho que se eu falasse para meus colegas de escola que eu estou jogando Splatoon eles não iam achar que é tão bom assim. Porque é da Nintendo, e eles acham que a Nintendo é coisa de criança. E não tem sangue nem vísceras. E mesmo que seja divertido, eles não iam admitir. Porque eles querem parecer mais crescidos. Mas eu não me importo, porque os jogos da Nintendo são adoráveis. E divertidos. Especialmente este.”

Essa afirmação dela, de que a Nintendo é vista como “coisa de criança” e por isso não faz sucesso na escola é algo que sempre me irritou, principalmente porque sou muito fã de coisas que outras pessoas consideram “coisa de criança”, como quadrinhos e desenhos animados (e mesmo videogames, da Nintendo ou não), e sempre tive que lidar com pessoas me criticando por isso. Imagina, me lembro até hoje de uma vez que estava assistindo Simpsons quando tinha uns dezoito anos (o que significa que Simpsons já estava no ar há mais de dez) e uma parente chegou e comentou com “aquela” inflexão na voz (vocês sabem do que estou falando): “Está vendo desenhinho?”

E era Simpsons. SIMPSONS!

Mas enfim, deixa estar, pessoas obtusas para criticar o gosto alheio com parâmetros vazios vão sempre existir. Faz parte. E, no caso da Nintendo ser “coisa de criança”, a verdade é que a própria empresa não aparenta se importar com essa imagem, ela quer ser vista como entretenimento para toda a família.

Só que outra parte do que ela disse me deixou encucado.

A parte do sangue e das vísceras.

Violência e maturidade


Muito bem, vamos começar com o clássico “eu não quero dizer isto, antes que vocês pensem que estou dizendo isto”:

Não estou aqui para fazer um discurso moralista sobre violência em games, e de como eles são simuladores de assassinatos deturpando a juventude ou coisa parecida. A verdade é que ainda não há um consenso sobre o assunto, mas se posso dar a minha opinião pessoal que não faz a menor diferença na realidade empírica em que vivemos, não acho que videogames incitem violência e acho que eles estão sendo usados como um bode expiatório para a sociedade não olhar e resolver problemas mais profundos.

Também não pretendo pregar a idéia de que jogos violentos não são divertidos, ou que não devíamos nos divertir com violência virtual. Imagina, mesmo eu gosto de um jogo sanguinolento aqui ou ali, apesar de sempre preferir uma arte estilizada do que jogos que buscam muito realismo. No More Heroes é um ótimo exemplo de jogo sanguinolento estilizado que eu adoro. E, sendo bem sincero, sou daqueles que pensa que é melhor termos esses meios virtuais de descarregar nossa adrenalina e sede sangue do que deixar acumular e correr o risco de acontecer (ainda mais) no mundo real, seja com videogames, filmes, livros ou quadrinhos. Eu sei que não é tão simples assim, mas vamos deixar essa discussão para outro dia.

E o último adendo antes de chegar ao ponto: não sou sociólogo, antropólogo, pedagogo, cientista social, psicólogo evolutivo ou coisa parecida, e eu também não tenho filhos, caso queiram motivos para desconsiderar o que tenho a dizer.

Agora chega de mimimi e vamos ao que interessa, que é a seguinte questão: por que crianças concluem que violência é um sinal de maturidade?

Bem, vamos refrasear com a palavra certa: por que meninos concluem que violência é um sinal de maturidade?

Comecemos com a explicação mais óbvia: violência ainda é visto como um sinal de masculinidade. Macho que é macho não leva desaforo pra casa e resolve as coisas no braço, tem que ser um guerreiro buscando uma morte gloriosa para chegar em Valhalla brilhante e cromado.

Ou seja, para um menino, uma criança pequena e frágil (crianças são pequenas e frágeis, para quem nunca reparou), poder viver essa fantasia de ser um guerreiro é uma maneira de se sentir mais próximo daquilo que ele quer se tornar quando crescer: forte. Não é que meninas não queiram ser fortes, já que superar suas limitações físicas e se fortalecer é um meio de se tornar mais independente e mais útil para a sociedade/família/amigos/grupo de dança performática/etc, só que com garotos a imagem de força se mistura com violência física. Logo, o seguinte raciocínio se forma na cabeça da criança: para ser um homem adulto tenho que ser forte, ser forte é saber dar porrada, logo coisas que envolvem dar porrada me deixam mais adulto.

Não sei o quanto disso é resultado dos nossos processos evolutivos e dos nossos genes e o quanto é fruto do sexismo arraigado na nossa sociedade, mas eu, sinceramente, acho que já passamos da época de ficar incutindo essa associação entre força, violência e masculinidade na cabeça da criançada. Sério, nós, seres humanos, podemos ser melhores que isto.

Sem contar a parte mais estúpida e irônica da coisa toda: na nossa sociedade (ou pelo menos na sociedade classe média urbana em que eu vivo), adultos não brigam, fisicamente falando. Para uma criança, brigar é um meio de conseguir o que quer (naquelas), mas para um adulto, brigar é um meio de não resolver nada e possivelmente ser excluído da sociedade. Nesse sentido, Splatoon, com seu foco mais forte em trabalho em equipe, é mais maduro que um shooter cujo objetivo é simplesmente ser o cara que mais matou, já que saber lidar com suas responsabilidades com o grupo onde está inserido é mais importante para a vida adulta do que ficar pisando nos outros (se você discorda, por favor, vá morar numa ilha deserta).

Só que essa associação entre violência e masculinidade é só uma parte da equação. Sendo bem sincero, não sei quantas partes tem nela, é uma questão bem mais complexa do que consigo elaborar num post dum blog de games. Mas tem uma segunda parte dela que eu fiquei refletindo: a questão do proibido.

Se não pode, então eu quero


Enquanto pensava nessa questão toda da sociedade glamourizar a violência masculina, não sei porque acabei me lembrando de uma piada que meu sobrinho gostava de contar quando ele tinha uns seis, sete anos:

– O que é, o que é? O que é um pontinho rosa no oceano? Uma bunda!

Neste caso, é um pontão rosa.

Ele contava e dava aquela risadinha de “hehehe, falei um palavrão”.

Ou seja, para ele a graça vinha de poder burlar a regra de não falar palavrão e falar bunda, não necessariamente de uma hilaridade intrínseca à palavra bunda, por mais que a palavra bunda tenha um grande potencial humorístico. Isso que bunda nem é um grande exemplo de palavrão.

Bunda, bunda, bunda (pensem que essas três palavras estão sendo ditas no ritmo das fases subterrâneas de Mario).

Com isso, comecei a ver um outro atrativo em jogos violentos para crianças: já que videogames, assim como filmes, programas de TV, quadrinhos e etc, possuem uma indicação etária indicativa, certos jogos, na sua maioria violentos, são “proibidos” para crianças. E o proibido é mais gostoso. Ou coisa parecida.

Não sei dizer o quanto é parte da natureza humana e o quanto é parte dos valores de uma sociedade, mas o proibido possui uma atração especial. É um desafio para ser superado, uma maneira de se destacar como diferente num mundo onde todos estão presos à regras, resultando em benefícios sociais, pois você agora faz parte da elite que consegue acessar o que é proibido, o que é secreto. E não é só com crianças que acontece isso, pois isso explica bem o fascínio que teorias da conspiração exercem sobre pessoas de qualquer idade: é uma maneira de pertencer à esse grupo superior especial que não é mais alienado e conheceu a verdade secreta do mundo, mesmo quando essa “verdade” não passa de uma série de absurdos costurados com falácias lógicas mal desenvolvidas.

Aqui que entra outra parte bizarra: esse proibido nem precisa ser realmente proibido.

Voltemos à questão da classificação etária de obras culturais em geral. Com a exceção de cinemas, teatros e shows, que a lei brasileira proíbe que menores entrem se a classificação etária for para maiores de 18 anos, mesmo que acompanhados dos pais, em todos os outros casos a indicação é apenas isso: uma sugestão, que quem realmente tem a palavra final na obra cultural que uma criança pode ou não consumir são os pais.

Ou seja, nessa, podemos ter quatro situações:

1) Os pais não conhecem ou não entendem o sistema de classificação etária e acabam deixando os filhos consumirem o que quiserem;

2) Os pais conhecem e entendem o sistema mas deixam os filhos terem acesso à obras tidas como inapropriadas por confiarem no discernimento da criança, ou ainda acompanham o filho no consumo de tais obras;

3) Os pais entendem o sistema e proíbem os filhos de consumirem obras inapropriadas para a idade deles e os filhos obedecem às regras dos pais; e

4) Os pais entendem o sistema, proíbem o acesso dos filhos mas eles encontram maneiras de burlar a proibição.

Estou falando em linhas gerais, claro que podem haver variantes desses casos. E não estou aqui para passar um julgamento moral de qual é a melhor ou a pior atitude que um pai pode ter em relação a o quê o filho tem acesso. O que eu quero é ver como essas posturas afetam a vida social da criança.

Para isso, vamos imaginar uma situação onde temos quatro coleguinhas, cada um com um dos tipos de pais descritos acima, e eles querem jogar GTA 5. O primeiro pede e ganha o jogo de presente, sem nenhuma hesitação dos pais. O segundo pede e os pais, depois de pesquisarem sobre o jogo, decidem comprá-lo mas com duas condições: que pelo menos um deles esteja junto na sala quando ele jogar e que ele só pode ficar no modo single player. O terceiro pede, os pais pesquisam e decidem que o jogo não é apropriado para ele, por isso ele não ganha nada. O quarto nem chega a pedir o jogo, ele passou meses economizando o dinheiro do lanche até conseguir juntar o bastante, e como o videogame dele fica no quarto, ele consegue comprar e jogar em segredo, sem os pais saberem.

O terceiro até pensou em economizar para comprar o jogo, ou em talvez pedir emprestado para algum colega que já tenha terminado-o, mas sabe que é inútil porque o videogame fica na sala, e não teria como ele jogar escondido dos pais. Sem contar que a bronca que ele levou quando os pais descobriram ele jogando Far Cry 3 na casa do amigo ainda ecoava dentro da sua cabeça.

Qual deles vai se sentir inferiorizado quando eles se encontrarem no recreio e começarem a conversar sobre o jogo? Qual deles pode até mesmo ser excluído do grupo?

Muito provavelmente o terceiro. Mas o interessante é que mesmo o segundo, que têm autorização dos pais e não superou proibição nenhuma, vai ter mais status social que o terceiro. Porque ele conseguiu jogar uma coisa tida como proibida, ou que pelo menos é proibida para outro. Ou seja, não importa como a criança teve acesso, o que importa é o acesso, é ter mais que o outro. É uma maneira da criança chegar nos amiguinhos e falar:

– Eu sou mais crescido, eu já vi e vivi coisas que você nem imagina, seu bebezão!

Ou pelo menos era na minha época, que me lembro de ficar de fora das conversas com meus coleguinhas da sexta série que já tinham internet em casa e ficavam vendo putaria, enquanto que eu só fui ter internet em casa e ver putaria a partir da sétima. Antes disso, era TV a cabo, que quem tinha conseguia assistir o Sexytime do Multishow enquanto que eu e os demais que não tinham cabo ficávamos apenas imaginando como devia ser esse programa (minha imaginação era bem mais elaborada, como eu fui descobrir quando finalmente colocamos TV a cabo em casa). Também tinha disso com filmes de terror, quem já tinha visto Sexta-Feira 13 era claramente superior aos outros na estrutura hierárquica do recreio, o que me mandava para a base da pirâmide, já que eu sempre fui um medroso com esses filmes.

Mas se o que essa menina falou sobre os coleguinhas dela for verdade, e não há nada que nos faça pensar o contrário, as interações sociais das crianças não mudaram muito, e aqueles que têm acesso ao proibido ainda se posicionam como superiores em relação ao resto. Soma-se a isso a questão da violência como medidor de masculinidade, temos nos jogos violentos o instrumento perfeito para meninos medirem seus status.

O que é péssimo, pelo menos na minha opinião.

Conclusão


Odeio quando leio textos onde o autor só aponta o problema e termina sem dar nenhuma sugestão de como resolvê-lo, e estou muito tentado a terminar este post aqui, sem apresentar nada também.

Que, como eu já falei antes, não sou um especialista em comportamento infantil ou pedagogia nem nada do gênero, o que não me dá o menor respaldo ou certificação para palpitar em nada sobre como crianças devem ser educadas ou como elas deveriam estruturar suas interações sociais.

E, sendo bem sincero, não sei qual é a melhor solução, ou mesmo se há alguma.

Não é para acabar com toda e qualquer obra artística que possua algum tipo de violência nem é para acabar com a classificação etária de obras culturais, pois ela é um ótimo meio de ajudar os pais a decidirem o que é melhor para educar os filhos, nem é para impôr aos pais regras mais rígidas sobre o que o deixar o filho ver ou não, até porque não haveria muito como fiscalizar isso.

Também não há como impedir a criação de estruturas hierárquicas entre crianças. Pelo menos, eu acho que não, que sempre vai ter aquele que se põe acima dos demais, e aqueles que vão concordar com ele. Imagina, não consigo ver como impedir isso mesmo entre adultos. Sem contar que a própria existência de hierarquias não é algo tão preto-no-branco quanto a ser ruim ou bom - deixemos mais essa outra discussão para outro dia.

Mas eu realmente estou querendo deixar aqui uma sugestão para melhorarmos essa situação toda:

Temos que parar de pôr violência num pedestal tão alto.

De novo: não estou falando de proibir obras violentas. Também não estou falando para fingir que violência (de qualquer tipo) não existe. O que eu estou sugerindo é refletirmos mais sobre a mensagem que estamos passando quando a usamos em uma obra. E essa mensagem pode simplesmente ser “porque temos um lado animal que se diverte com violência, e é melhor lidarmos com ele num ambiente controlado do que descarregando no mundo real”, desde que os consumidores dessa obra sejam psicologicamente saudáveis o bastante para entender isso. O problema é usá-la como a característica que define o valor de uma pessoa. Essa é a pior das mensagens.

Existem outros valores que podemos usar como exemplo de maturidade, como empatia, trabalho em equipe, pagar as contas e não ficar bitolado demais com o que os outros pensam do que você gosta.

Nesse sentido, acho que a menina do artigo é um ótimo exemplo: ela gosta de Splatoon porque ela se diverte com ele, e o que os coleguinhas dela vão pensar que se dane.

E ela tem toda razão, Splatoon é legal pra caramba.

Links


• Here’s what a 10-year-old thinks of Splatoon, her first online competitive shooter (Financial Post)

• Being involved in which games your kids play doesn’t mean you need to sit on the couch with them for 50 hours (Financial Post)

• How Splatoon Surprised A Six Year Old (And His Father) With His First Online Experience (Game Informer)

• Iwata Asks: Splatoon (Nintendo)

• The contested field of violent video games: Research roundup (Journalist's Resource)

Video game controversies (Wikipedia)

• 5 Ways Kids' Toys Are Shockingly Good At Teaching Sexism (Cracked)

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